PARAPSICOLOGIA: A PRIMEIRA LEI
ENUNCIADO, DISCUSSÃO E CONSEQÜÊNCIAS
G. S. SARTI
(*)
ABSTRACT
We are introducing the first law of parapsychology,
discussing it under multiple universe point of view and
trying to make it true by a theoretical formulation.
As as immediate
consequence of the first law we present selection and
repression of information factors and their local
and false correlated psychosis and then we define the
paranormality as an occasional opening in the repression
factor
RESUMO
Introduzimos a primeira lei da parapsicologia,
discutindo-a do ponto de vista dos universos múltiplos e tentando validá-la com uma
formulação teórica. Como conseqüência imediata da primeira lei apresentamos
fatores de seleção
e repressão de informações e suas manifestações
correlatas, psicoses locais e falsas, para então
definirmos a paranormalidade como uma liberação
eventual no fator de repressão.
INTRODUÇÃO
Não se pode afirmar ainda que a Parapsicologia já se
constitua num
corpo científico. Dependendo basicamente da observação
da fenomenologia, das técnicas experimentais e da
aplicação de testes estatísticos, ela ressente-se de uma
teorização capaz de validá-la como ciência autônoma (o
que a torna de natureza multidisciplinar) e de uma epistemologia que
lhe seja apropriada.
Nossa tentativa neste artigo é a de esboçar um principio
teórico que ao
mesmo tempo em que se subjuga ao fenômeno
parapsicológico e suas características, esteja
igualmente apto a adaptar-se a uma reinterpretação de
leis consideradas clássicas para criar a
possibilidade de um melhor entendimento na apreciação de
algumas
importantes peculiaridades peculiaridades do fenômeno
humano.
A PRIMEIRA LEI DA PARAPSICOLOGIA
Os estudos de campo na Parapsicologia têm-se revelado
convergentes sobre
um aspecto fundamental o qual, pela significância
estatística dos resultados obtidos, pode ser, com
bastante força indutiva, generalizado em lei.
Passamos a enunciá-la como a Primeira Lei da
Parapsicologia:
"O aparelho psicológico não está restrito aos limites
físicos do sistema nervoso, preenchendo
todas as regiões do espaço-tempo, independentemente das
grandezas das medidas de distância e de tempo "
Sendo o aparelho psicológico o que se chama de um
"domínio informacional" (13, 17),como
corolário primeiro tem-se:
"O aparelho psicológico contém potencialmente todas as
informações obteníveis do espaço-tempo,
independentemente das grandezas das medidas de distância
e de tempo"
Estando o espaço-tempo parcialmente ocupado por matéria
e campos físicos, apresentamos como segundo corolário:
"O
processo parapsicológico de aquisição de conhecimentos
pelo aparelho psicológico não é afetado pela presença de
matéria ou campos físicos que se situem entre a fonte de
informações e o sistema nervoso"
DISCUSSÃO
Convém salientar que a primeira lei da parapsicologia
não conflita obrigatoriamente com o princípio do livre arbítrio. A
teoria do estado relativo de Everett (3) nos
fornece argumento para tal assertiva. Naquela teoria a memória do
observador é influenciada na medição porque o observador
faz parte de um sistema compósito observador-objeto. Isso conduz inicialmente a completude
desejada por
Einstein-Podolsky-Rosen (2) e resolve o seu paradoxo
respectivo. A lógica simbólica
de Everett ao introduzir fisicamente a variável "memória
do observador", faz com que não haja colapso do vetor de
estado no sistema do observador. Todos os estados passados contidos na memória do
observador fruto da sua interação com o objeto,
contribuem na solução da equação de operadores
para uma certa
quantidade medida, independentemente das medidas
posteriores da mesma
quantidade. Assim, há uma superposição de estados
globais,cada qual remetendo a um estado de memória. O
resultado é o aparecimento de universos múltiplos
ramificados, cada novo universo sendo produto de uma
nova medição e modificando os anteriores sem apagá-los. Como tais universos ramificados solucionam
simultaneamente a
equação de Schroedinger dependente do
tempo,determinística mas
também partem da escolha livre do que medir e quando
medir, fica eliminado um possível confronto entre
determinismo e livre arbítrio.
EVIDÊNCIA TEÓRICA
Foram, a partir da primeira lei da parapsicologia,
idealizadas por nós partículas do tipo táquions (4,6), mas diferindo
deles radical e estruturalmente. As propriedades
principais de tais partículas, por nós chamadas psicons,
aparecem a seguir:
I - Possuem pseudomassa em repouso real e massa em
movimento imaginária. Viajam a velocidades super-
lumínicas sem passar pela singularidade do fator de
correção relativístico. Traçam intervalos métricos
Spacelike e estão associadas a ondas planas
completamente livres de forças reais. Sendo
Spacelike, podem
contrariar os princípios da causa e efeito,
genidentidade física e entropia crescente. Sob
esse último aspecto, podem ser consideradas portadoras
de informação psicológica (18). Adequam-se ao primeiro
corolário
II - Por estarem associadas a ondas planas, ocupam, pelo
princípio da incerteza de
Heisenberg, todo o espaço-tempo, concordando com a
primeira lei da parapsicologia (18)
III - Não interagem com a matéria real e por isso
adequam-se ao corolário segundo
(15)
Propriedades secundárias seriam possuir capacidades de
cosmogonia por reprocessamento
com a matéria (16), possibilidade de aplicar-se ã
psicocinese por encurvamento forte do espaço-tempo local
e produção de antimatéria (19)
Tais partículas reforçam a primeira lei da
parapsicologia mas pela sua própria inerência não se
enquadram nos critérios da epistemologia de Popper (10).
Podemos sustentar
sua existência reinterpretando leis
e conceitos clássicos como por exemplo, conceder um
significado quase físico ao domínio do
imaginário
matemático.
EXEMPLO DA
APLICAÇÃO DA PRIMEIRA LEI DA PARAPSICOLOGIA
A presente finalidade é dar uma interpretação ao
fenômeno da paranormalidade. Para isso traçaremos
urna diferenciação entre psicoses locais e falsas
psicoses, respectivamente associadas ao que chamamos de
fatores phi e ro.
I - FATOR
PHI E PSICOSES LOCAIS
O fator phi possui as seguintes características (14):
A - Percebe e seleciona semanticamente informações
sintáticas que possam ciar-se semanticamente aos
conteúdos da consciência.
B - Age nas vias aferentes do sistema nervoso estando
portanto associado à estimulação ambiental local.
C - É desempenhado pelo sistema de ativação reticular
ascendente.
A atuação
do fator phi impede que todos os pulsos de ação
aferentes atinjam simultaneamente o córtex, gerando
desorganização da consciência e estado convulsivo por
recrutamento generalizado de todo córtex. Assim, sua
principal função é exercer a prova associa-se/não
associa-se aos conteúdos da consciência, de forma que a
atenção possa ser exercida pelo indivíduo.
As psicoses locais são por nós definidas como oriundas
de falhas no fator phi. Cameron e Payne (9) aceitam que
colapsos num hipotético mecanismo de seleção sobre os
impulsos sensoriais sejam em 50% das vezes a causa de
casos esquizofrenia. O pensamento superinclusivo
derivado do colapso na seleção das informações
sintáticas não permitiria a sobrevivência. Lovaas e Hutt
e Hutt [(7) igualmente admitem que a síndrome autística
seja resultado de defeitos no mecanismo
de funcionamento do sistema de ativação reticular
ascendente.
Também, a
insônia e distúrbios do sono, primeiros
indícios da depressão, podem ser ocasionados por
depleção de serotonina nos núcleos do rafe (a ingestão
de IMAO, e de facilitadores do metabolismo do
Triptófano, restaura os níveis normais
do neurotransmissor restabelecendo o sono
fisiológico normal). Esse fato evidencia, de forma indireta,
a participação da porção do tronco do sistema de
ativação reticular ascendente
na doença depressiva.
Sendo assim, as psicoses locais englobam algumas formas
clássicas de psicose classificadas no CID, exigindo
tratamentos convencionais.
FATOR RO E
FALSAS PSICOSES
Diferencialmente do fator de filtragem phi, hipotetizemos um fator de repressão chamado ro. Enquanto
aquele atua sobre estímulos físicos que atingem os
receptores terminais, o fator ro é a conseqüência
imediata que deve
reprimir ou manter não conscientes as informações
universais que estão implícitas na conceituação da primeira lei da parapsicologia.
Essas informações não sendo originadas de interações de
campos físicos com o sistema nervoso são semanticamente
graváveis no córtex cerebral, de forma direta, sem
passarem pelas vias
sensórias. Um mecanismo oposto ao da percepção
sensorial. Assim, por exemplo,
no caso da clarividência, o sujeito vê um evento que
está ocorrendo a quilômetros dele. Nesse caso
houve uma falha no fator de repressão e uma informação
universal específica foi impressa no córtex occipital.
Isso pode explicar
os mecanismos de sonho premonitório e de desdobramento
durante o sono ou relax. Comutada a percepção
sensorial, o sistema nervoso tenderá a absorver informações
universais que em vigília beta não seriam
conscientizadas. Tudo indica
assim que um fator de repressão seja exercido pela
própria atividade sensorial (nesse caso, confrontar com
as experiências de privação sensorial ou Ganzfeld).
Um segundo fator ro seria exercido pelo hemisfério
dominante dominante (esquerdo). Salles (11) no estudo de
superdotados intelectuais por hipoxemia cerebral
com conseqüente
colateralidade hemisférica e disfunção cerebral mínima,
observou neles a manifestação de telepatia e
precognição. Parece, nos casos por ele
observados, que
houve uma diminuição de repressão devido à compensação,
pelo uso do hemisfério direito, da degeneração das
células do hemisfério esquerdo.
Dentre outros, Luria (8) nos comunica que lesões nos
lobos frontais
áreas 4, 6, 8, 11, 12, 46, 45 e 10 de Brodman, podem
provocar distúrbios no pensamento verbal e
déficit intelectual, mas que o mesmo não ocorre com
lesões nas respectivas arcos do H.D. o qual, supõe-se,
distingue-se por atividade mais gestálica e intuitiva
e lógica, portanto capaz de percepções imediatas, o que
concorda implicitamente com as observações de
Salles (11). Entretanto, considerando-se um outro tipo
de fator de repressão ro como originário de mecanismos
de defesa cuja tendência é evitar a imagem do objeto
hostil e que tal processo não é interneuronal como
fazia supor a antiga teoria metapsicológica (1,5), é
provável que informações "hostis" que ameacem a atenção
aos fatos relevantes à sobrevivência sejam reprimidas a
nível exclusivamente psicológico.
Num plano bastante lógico pode-se concluir que o fator
de repressão ro tenha as seguintes características:
A- É de
natureza neurológica ou psicológica
B- Impede a representação consciente das informações
universais
C- É exercido pela própria atividade sensorial, pelo
hemisfério dominante ou por fato representativo da
psicologia do indivíduo
Com isto podemos definir as falsas psicoses como uma
liberação nos fatores de repressão ro. Elas
caracterizam-se por estados paranormais de maior ou
menor intensidade e que podem persistir por períodos
mais ou menos longos, dependendo do
grau da liberação.
Para traçar um diagnóstico diferencial entre neurose e
psicose, questionamos
seis psicoterapeutas clássicos (dois psicólogos, dois
psicanalistas e dois psiquiatras). Em perguntas verbais
do tipo sim-não-não observado foram eles unânimes em
apontar a manifestação paranormal corno uma das
características diferenciais já
observadas. A probabilidade exata binomial de acaso nas
respostas desse grupo foi de 1 para 729, bastante
significativa. Esse resultado, embora precário devido ã
dimensão da população investigada, sugere uma certa
confusão na
interpretação do que é uma psicose e um estado de
paranormalidade. De acordo com as
observações de Rhine (12), não há correlação qualquer
entre psicose e paranormalidade.
Pelo que foi apresentado, o reforço do ego, a
estimulação sensorial e o apelo à
atividade analítica poderão conduzir o indivíduo ao
estado sensório. Por outro lado a psicofarmacologia convencional é danosa
devendo, nesse caso, ser pesquisada, já que os
centros de repressão das falsas psicoses diferem dos
centros de
filtragem das psicoses locais.
PARANORMALIDADE
Como ficou implícito, consideramos a consciência como a
porção do aparelho psicológico que está acoplada ao
sistema nervoso. Pela primeira lei da parapsicologia, o aparelho psicológico é todo ele de
natureza informacional, estendendo-se por todo o espaço-tempo. Vimos que falhas
nos fatores de filtragem e repressão provocam psicoses locais ou falsas psicoses
que são diferenciais.
Seguindo essa linha de pensamento definimos certo tipo
de paranormalidade como
"uma liberação ou falha qualquer no fator de repressão".
Sob esse
prisma, ela se insere nos seguintes casos:
I - Casos estatísticos, onde alternam-se
intermitentemente falhas em ro e predominâncias sensoriais ou analíticas
II - Casos espontâneos, em que a abertura em ro é
provocada por uma adequação entre a
informação universal específica e alguma característica
consciente.
III - Casos controlados de falhas recorrentes no
processo repressivo de uma intensidade suportável pela
consciência
IV - Casos descontrolados de
liberações permanentes no
processo repressivo, de uma intensidade não suportável
pela consciência
Os casos de paranormalidade acima definidos são aqueles
que envolvem a informação como elemento fundamental do
fenômeno parapsicológico. Em parapsicologia são
enquadrados como casos de PSI-GAMA e provavelmente
também de PSI-TETA. Os de PSI-KAPA (psicocinese) ficam
ainda em aberto para posterior abordagem,
bem como uma grande diversidade de fenômenos atípicos.
REFERÊNCIAS:
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8. Luria,
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9. Mayer-Gross,
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Popper,
K.R. 1975 A Lógica da Pesquisa Científica Cultrix/EDUSP
11. Salles,
J.C.F. 1982 Os Superdotados Alvorada
12. Rhine,
J.B. 1966 Fenômenos Psi e Psiquiatria Hemus
13. Santos,
H. 1982. O Tempo Quântico e O Demônio Informacional.
In Jornal de Hoje (ed) Anais do III
Congresso Nacional
de Parapsicologia e Psicotrônica. 105 ABRAP
14. Sarti, G.S. 1980
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15. Sarti,
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Jornal de Hoje (ed) Anais do III Congresso Nacional de
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16. Sarti,
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Parapsicologia do Rio de Janeiro (não
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1983
17. Sarti,
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e Domínio Informacional: Uma Teoria Unificada
Monografia apresentada ao Instituto de
Parapsicologia do
Rio de Janeiro (não publicado)
18. Sarti,
G.S. 1984 Psicons, Um Novo Modelo Psicofísico para
ESP e PK Monografia apresentada ao Instituto
de
Parapsicologia do Rio de Janeiro (não publicado)
19. Sarti, G.S. 1985
Metafanismo, Ectoplasma,
Aura e Estados Transicionais Monografia apresentada
ao
Instituto de Parapsicologia do Rio de Janeiro (não
publicado).
ADENDO
A 1º
lei da Parapsicologia foi formulada em 1985, após o que
novos esclarecimentos e extensões lhe foram agregadas. As referências 20, 21, 22 e 23 são de especial valia.
Em
(21), Ronaldo Dantas procura ampliar a aplicação da 1ª
lei, aos fenômenos de psicocinese, introduzindo os
fatores PI e TAU, admitindo o fenômeno PK como sendo de
natureza semântica e explicando porque, do ponto de
vista parapsicológico, os indivíduos podem manter em
níveis razoáveis sua condição neurofisiológica o
suficiente para poderem sobreviver.
Em
(23), procuramos estabelecer um elo lógico entre os
psicons e as consciências, procurando deixar clara que a
questão levantada e mantida por Einstein relacionada ao
Paradoxo EPR conduz inevitavelmente à aceitação tácita
do que a informação semântica é capaz de produzir ações
à distância em experimentos quânticos.
Na
referência (23) foi destacada de forma compacta e
matemática o universo psicônico e suas relações com os
fatores de redução PHI e RHO.
Finalmente, em (20), Horta Santos dá com bastante
clareza e precisão sua concepção do Domínio
Informacional e suas relações com os fatores de
repressão, além de criticar com os fatores de repressão,
além de criticar com amplitude o uso que fiz da Teoria
das Perturbações Quânticas no domínio da informação
equivalendo a potencial real nulo ou imaginário da
perturbação semântica.
Outras alusões podem ser pesquisadas nos Anuários
Brasileiros de Parapsicologia, editados pelo Instituto
Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas.
O leitor interessado
em aprofundar-se no tema poderá se dirigir ao professor
Valter da Rosa Borges , endereço eletrônico
rosaborges@terra.com.br.
REFERÊNCIAS DO
ADENDO
20. Horta
Santos, J.J. 1998 O Tempo e a Mente – O Universo
Inteligente – NOVA ERA
21. Lins
Figueira, R.D 1995 Curas por Meios Paranormais –
Realidade ou Fantasia?
IPPP/ASPEP
22. Sarti,G.S. 1991
Psicons - do Real ao Imaginário – ABRAP
23. Sarti, G.S. 2000 –
Paradoja EPR, Psicons y Conciencia
– Cuaderos de Parapsicologia 33(2):1
(*)
ABRAP - Associação Brasileira de Parapsicologia,
junho/2007
|